quinta-feira, 18 de abril de 2019

Um presente inesperado

Recebi hoje um presente da minha consulente mais antiga. Uma senhora aposentada, com uma história de vida linda, de força e luta, que resolveu dedicar seus trocados contados a comprar uma singela caixa de bombom. Na academia a gente aprende que não se pode aceitar nenhum tipo de presente de paciente. Eu aceitei. Aceitei porque ainda acredito na força da gentileza e no poder transformador do afeto. Nós duas não somos as mesmas depois desse processo terapêutico. Fomos ambas afetadas pelo encontro, crescemos juntas, ela como pessoa, eu como profissional. Queria eu poder ter dado uma caixinha de bombom à ela como forma de gratidão. Não tinha uma comigo. Dei a ela então o meu abraço, a minha disponibilidade. No fim das contas é isso que vale: o afeto contido nos atos. Sem ele, todo resto é balela, presente sem valor, teoria oca.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Transtornos Alimentares

Apesar de caminharmos para um mundo cada vez mais desconstruído de estereótipos e preconceitos, infelizmente ainda estamos em uma sociedade que tem o hábito de classificar as pessoas pelas questões estéticas ou impor como elas devem ser e agir para que sejam aceitas. E em meio a tantas imposições, alguns transtornos vêm se desenvolvendo cada vez mais entre adolescentes e jovens: os relacionados à alimentação.

De modo geral, são considerados transtornos alimentares tudo que é apresentado como exagero em relação à comida, tanto de uma pessoa que se priva de ingerir alimentos, como uma que come compulsivamente. No entanto, os distúrbios alimentares são bem mais complexos: normalmente eles vêm acompanhados de outros transtornos psicológicos como depressão e ansiedade, dificultando ainda mais o tratamento completo.

A pessoa que sofre desse mal apresenta baixa autoestima, perfeccionismo e uma distorção da imagem corporal, tornando-a sempre negativa. Além de aspectos biológicos e psicológicos, fatores como influência familiar, profissões que promovem a perda de peso, traumas da infância, situações estressantes e até a constante pressão cultural podem contribuir para o aparecimento de um distúrbio alimentar. Eles frequentemente aparecem durante a adolescência ou no início da idade adulta. Mulheres e meninas são muito mais propensas do que os homens a desenvolver um distúrbio alimentar, e esses índices têm aumentado a cada ano.

Transtorno alimentar é um tema que merece uma atenção especial, por isso vamos falar sobre os principais tipos, causas, sintomas e possíveis tratamentos.


Compulsão alimentar

Também chamado de TCAP, no transtorno de compulsão alimentar periódica, a pessoa ingere rapidamente grandes quantidades de alimentos em um curto espaço de tempo, e logo depois sofre com sentimentos de vergonha, culpa e desconforto. Quem apresenta este transtorno tende a comer mesmo quando está sem fome e durante todo o dia, sem refeições planejadas e não conseguindo controlar o que está comendo.

Ligada ao lado emocional, a compulsão alimentar é vista como uma tentativa de amenizar sentimentos de tristeza, medo, ansiedade ou stress por meio da comida, causando um alívio temporário. É um dos transtornos mais comuns, e a sua principal consequência é a obesidade.


Obesidade e Gordofobia

Com episódios de compulsão cada vez mais frequentes, a principal consequência é o sobrepeso e a obesidade. Junto a ela, podem existir problemas de autoestima e depressão, além de complicações como doenças cardíacas, diabetes, colesterol elevado e pressão alta.

Mas o mais complicado de se controlar para quem está acima do peso, estando saudável ou não, é o julgamento cotidiano da própria sociedade, e a gordofobia está mais presente do que você imagina. A repulsa, o preconceito, a inferiorização ou o julgamento da pessoa obesa pode não aparecer de forma escancarada, mas existe. E são essas formas de pensar que estigmatizam e submetem as pessoas a diversas formas de discriminação em nossa sociedade.


Bulimia

A bulimia é um distúrbio caracterizado por comportamentos com objetivo de evitar o ganho de peso. Podem ter episódios de compulsão alimentar, alternados por períodos de dietas restritivas, ambos associados à sensação de falta de controle em relação à comida. Depois de ingerir grandes quantidades de comida, as pessoas que sofrem desse distúrbio desenvolvem comportamentos secundários compensatórios inadequados para que o controle do peso seja mantido, como indução de vômito, consumo de diuréticos e laxantes, utilização de inibidores de apetite e até prática de atividades físicas rigorosas. 

A bulimia pode causar falta de menstruação de pelo menos 3 ciclos, queda de cabelos, perda dos dentes, inchaço nas glândulas parótidas, desmaios, alterações de humor e de peso. Geralmente as pessoas com este distúrbio estão dentro do peso normal, mas possuem distorção da própria imagem.


Anorexia

Já a anorexia pode ser compreendida como a perda de peso intencional, causada pela redução de alimentos. A pessoa com este transtorno tem uma grande distorção de imagem corporal, restrições alimentares severas e auto impostas, padrões incomuns e não saudáveis de alimentação. Também pode utilizar os mesmos métodos de expurgo da bulimia, porém com uma desnutrição agressiva, podendo levar à morte. 

Quem sofre com a anorexia possui quadros de sono e frio intensos, queda dos cabelos, pele em tom amarelado, falta de menstruação, mudanças de humor e desenvolvimento de lanugo, uma penugem fina por todo o corpo para que ele permaneça aquecido. 


Principais fatores 
O que pode contribuir para o desenvolvimento do transtorno alimentar?

  • Necessidade de controle (o corpo como reflexo da vida) 
  • Relações familiares negativas 
  • Dificuldade de comunicação entre os membros da família 
  • Ausência de limites ou limites muito rígidos 
  • Pais distantes afetivamente, com dificuldade de expressão dos afetos na família 
  • História de obesidade infantil 
  • Experiência de agressões físicas 
  • História de abuso sexual 


Sinais de alerta 
Como posso identificar um possível portador do transtorno alimentar? 

  • A pessoa está sempre fazendo dietas, principalmente restritivas?
  • Apresenta uma preocupação exagerada com seu corpo? 
  • Conto calorias dos alimentos que come ao longo do dia? 
  • Se queixa frequentemente do peso, da forma física? 
  • Teve mudança radical de hábitos alimentares sem acompanhamento profissional? 
  • Apresenta algum prejuízo entre amigos, família, vida profissional ou acadêmica? 
  • Tem apresentado menos interesse e produtividade em atividades coletivas? 
  • Deixa de socializar com os amigos ou família para, por exemplo, ir à academia? 
  • Apresenta consideráveis mudanças corporais em pouco tempo? 
  • Usa algum pretexto para não comer na frente de outras pessoas? 
  • Tem feito uso de laxantes ou diuréticos para “desinchar” ou “evacuar mais rápido”? 
  • Tem demorado mais tempo que o usual no banheiro, ou apresenta hábitos peculiares
    (por exemplo, liga o chuveiro sem tomar banho, escuta música alta, etc)? 


O que pode ser feito?

Todos os transtornos alimentares que foram citados neste artigo são todos tratáveis, e quanto mais cedo forem diagnosticados, mais chances de obter-se resultados satisfatórios. O tratamento pode incluir acompanhamento médico, nutricional, medicação e psicoterapia individual e/ou familiar. Por isso, se você estiver nesta situação ou perceber alguns destes comportamentos em amigos ou familiares, procure ajuda de um profissional.


Dica de Filme

A Netflix lançou o filme “O mínimo para viver”, que traz a anorexia juvenil como tema principal. A história é sobre Ellen, uma menina de 20 anos que já passou por diversas clínicas, mas nunca conseguiu progredir em seu tratamento. Ela mora com o pai, que está sempre ausente, a madrasta, que acredita que a culpa da sua situação é da mãe de Ellen, e a meia-irmã, que pensa que só se precisa de força de vontade para conseguir sair disso. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, Ellen passa os dias sem esperança, somados à culpa pela morte de uma desconhecida. As coisas começam a mudar quando ela conhece Dr. Beckham e sua clínica de tratamento alternativo para transtornos alimentares. Confira o trailer