quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Dia das crianças e as crianças que já fomos

Por muitos anos eu tive vergonha das minhas fotos. Nessa, por exemplo, eu estava com 8 anos. Ainda não entendia muito o que era a tal da pressão estética, fui apresentada a ela um pouco mais tarde. Mas apesar de ainda não saber, em cima de mim já existiam vários julgamentos e expectativas do mundo. E eu era apenas uma criança.
Manuella Bahls

Depois de algum tempo, em torno de um ou dois anos, me dei conta do fel do mundo. Passei a ser pouco (ou nada) generosa comigo, e encontrava defeitos em detalhes que hoje mal consigo entender como os encontrei. O mundo ensina as meninas, desde muito novas, a não gostarem de si. A odiarem seus corpos e suas singularidades. Nos tornamos boas em encontrar defeitos - excelentes, na verdade. Porque defeitos são faltas, faltas geram desejo, e onde há desejo, há consumo. A lógica da sobrevivência se alimenta da criação de insatisfações desnecessárias.

Somente aos 34 anos consigo olhar essa foto de um jeito diferente. Hoje, o que vejo é apenas uma criança. Uma menina doce, engraçada e muito curiosa, com olhos vibrantes, cheios de astúcia e inocência. Um semblante terno e desperto, “emoldurado” pelos cabelos desajeitados e roupas coloridas (quem costurava e cortava os cabelos do pessoal lá de casa era minha mãe, pessoa essa que nitidamente fazia da filha um experimento particular hehehe).

Hoje consigo sentir muito carinho por essa foto. Embora eu lamente o tempo que passei tentando ressignificar tudo isso, ainda tento conseguir amar essa menina imperfeita cada dia mais, cada vez mais depressa. E é isso que eu desejo a vocês também.

Feliz dia das crianças para todas aquelas que ainda são, as que um dia já foram e as que, se procurarmos com respeito e gentileza, ainda conseguimos encontrar aqui dentro da gente!