quarta-feira, 20 de maio de 2020

Filósofos e a pandemia (alerta de humor)

Einstein, o cara que me ferrou nas aulas de física só porque uma maçã caiu em sua cabeça, dizia que o traço característico da existência é a impermanência. O Heráclito, um senhorzinho “enfezado” que nasceu um pouco antes dele, também já apresentava esse mesmo pensamento quando dizia que tudo flui, nada permanece.

Eu sei, os dias têm sido difíceis. Mas veja, há 2.500 anos (pelo menos!) a gente tem recebido evidências, de caras com bem mais moral que a gente inclusive, de que todas as coisas na vida passam. Não teria motivos para agora ser diferente. Ainda não sabemos exatamente quando o isolamento vai terminar e nem como vamos encontrar o mundo depois que a gente puder sair de casa com tranquilidade, mas sabemos que tudo isso, uma hora, vai passar. Até lá, o que a gente precisa fazer é se concentrar em ficar bem para quando esse dia chegar.

Eu espero que você esteja bem.
Mas se por acaso não estiver, lembra: vai passar.

Ps: Já fui avisada que a maçã caiu na cabeça do Newton e não do Einstein, mas desisti de arrumar o texto porque não consegui abreviar a teoria da relatividade. Agora vocês já estão avisados também. Ainda bem que sou psicóloga! 😄

Manuella Bahls
Psicóloga clínica - CRP 12/14894
Atendimento juvenil, adulto e casais
Trindade e Centro de Florianópolis
Telefone: (48) 99919-6930

quarta-feira, 6 de maio de 2020

O poder do acolhimento

Existe uma potência quase mágica em ser acolhido e sentir que o outro enxerga a sua dor. Perceber que alguém legitima seu direito de sofrer, entender que não está louco, que sua angústia também tem lugar, pode trazer alívio e ser bastante transformador.

Por outro lado, ouvir alguém lhe chamar de frágil ou sensível demais, dizer está fazendo tempestade em copo d’água e quer chamar atenção, pode trazer sensações exatamente opostas. O sofrimento, que antes era pontual, agora aumenta, e o que antes poderia ser administrável, agora se torna devastador.

Se tem alguém em sofrimento perto de você, não faça essa dor piorar. Lembre-se que, em algum momento da sua vida, você também ocupará o lugar de quem sofre.

Se é você quem sofre, saiba que tem gente que pode te acolher sem invalidar sua dor. Não aceite comentários tóxicos sobre seu momento, ainda que venham de pessoas próximas. Só você sabe o que realmente sente, não permita que outra pessoa desautorize suas emoções.

Não sofra em silêncio: procure ajuda!

domingo, 3 de maio de 2020

A utilidade das preocupações

Administrar as preocupações, sem obedecê-las
Você possivelmente é mais paradoxal do que imagina quando o assunto é preocupação. Se por um lado você sabe que as suas preocupações estão desgastando as relações e arruinando suas chances de aproveitar a vida, por outro, você acredita (ainda que de forma inconsciente) que as elas podem lhe ajudar a resolver problemas.

Nossas preocupações têm passagem livre em nossa mente, e aparecem e desaparecem quando querem. E vai ser assim sempre, não tem jeito. Nosso desafio é conseguir administrá-las, sem obedecê-las. Ainda que elas apareçam, não precisamos fazer disso um problema, nem mesmo lutar contra, só precisamos nos afastar.

Se você sofre de ansiedade e não consegue deixar de se preocupar com situações futuras que estão além do seu controle, essa técnica pode ser útil pra você. Escreva em uma lista as vantagens de se preocupar com algo (por exemplo “preocupação me ajuda a compreender as coisas” ou “se eu não me preocupo, eu não faço nada”). Ver as vantagens das preocupações por escrito podem alterar a forma como você se sente em relação a elas. Elas podem até parecer meio bobas, o que é uma coisa boa.

Fazer uma lista com os prós e contras em se ter preocupações pode ser útil. Escreva todas as vantagens sobre a preocupação que puder lembrar (por exemplo “preocupação me ajuda a compreender as coisas” ou “se eu não me preocupo, eu não faço nada”). Ver as vantagens das preocupações por escrito podem alterar a forma como você se sente em relação a elas. Elas podem até parecer meio bobas, o que é uma coisa boa. Em sequência, faça outra lista dos incômodos e pesos que as preocupações podem trazer à sua vida. Não será difícil pensar neles se você for honesto consigo. Ao terminar as duas listas, observe-as e pense se consegue encontrar motivações suficientes para deixar de se preocupar.


Construindo a sua motivação


Para ficar mais clara a proposta deste exercício, vou dar um exemplo. Certa vez, uma paciente me disse que precisava se preocupar em ser uma boa mãe para garantir que nada de mal pudesse acontecer com seus filhos. Ela também acreditava que, se preocupando com sua capacidade de fazer suas tarefas em seu emprego e prevendo todas as coisas que poderiam dar errado, ela poderia impedir que coisas ruins acontecessem. Nosso trabalho foi questionar se o fato de preocupar-se com as coisas poderia realmente ser a melhor estratégia a ser adotada.

Sugeri que ela fizesse uma lista do que poderia fazer. Por exemplo, ela poderia se certificar de que alguém levasse seus filhos ao colégio, mas embora isso não garantisse, com certeza absoluta, que alguma emergência poderia acontecer. Por isso, a alternativa que ela tinha era se preocupar com coisas que ela não podia controlar ou desistir do controle e da certeza de como eles estariam. Sugeri então que ela elaborasse uma lista com as coisas que deveriam ser feitas para diminuir a probabilidade do cenário que ela tinha medo. Em um dos itens da lista, ela definiu que passaria seu telefone para a pessoa que acompanhasse as crianças ao colégio. Isso não garantiria a total segurança delas, mas diminuiria a necessidade da preocupação em si, pois sabendo que se algo acontecesse ela seria avisada, a preocupação se tornaria inútil. Preocupar-se em fazer as coisas é diferente de fazer as coisas de fato. Se fizermos as coisas que são possíveis, teremos menos com o que nos preocupar. 

Preocupação é diferente de ação
Lembro-me de ter passado por experiência parecida recentemente. Eu havia aceito o convite para escrever um artigo para a clínica em que trabalho. Percebi que eu estava procrastinando a entrega do artigo e, então, me preocupando com o prazo. No dia seguinte, recebi uma mensagem da responsável: “Manuella, você já terminou o artigo?”. Fiquei muito preocupada com isso. Foi então que decidi fazer duas listas, uma com as coisas que eu tinha que fazer naquele dia e outra com as coisas que de fato eu poderia fazer naquele dia. Decidi então fazer o esqueleto do artigo e comecei  a me sentir melhor, e aos poucos, minha motivação para escrevê-lo também foi aumentando – até que terminei. Percebi que não foi a minha preocupação que havia me motivado, mas sim a ação. É muito importante que tenhamos isso em mente: a ação é diferente de preocupação. Você não deve se preocupe, porque isso não é eficiente e nem contribui com nada. O que você deve é agir!


Reavaliando suas preocupações


No primeiro momento, você poderá achar difícil fazer isso. Essa impressão surge porque você está focado na meta errada. Muitas pessoas dizem: “Preciso me livrar das preocupações”. É de se esperar que elas estejam sendo pessimistas, pois livrar-se totalmente das preocupações é uma tarefa impossível. Você não vai conseguir acabar com todas elas da sua vida, e se esse for o seu objetivo, certamente você irá fracassar. O objetivo não é eliminá-las, mas continuar funcionando apesar delas.

As nossas preocupações têm passagem livre em nossa mente, elas aparecem e desaparecem quando querem. E vai ser assim sempre, não tem jeito. Nosso desafio é conseguir administrá-las, sem obedecê-las. Ainda que as preocupações apareçam, não precisamos fazer disso um problema nem mesmo lutar contra elas, só precisamos nos afastar.

Agora que você sabe como reavaliar suas preocupações, vamos praticar? Ao lado coloquei um modelo que pode ajudá-lo na montagem das listas - embora você não precise se prender a este material para realizar a atividade. Bom trabalho! 💪