sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Vulnerabilidade é sinal de fraqueza?

Muitas pessoas associam vulnerabilidade com fraqueza, insegurança, incapacidade ou medo. Historicamente, nossa busca pela perfeição e omissão das próprias fragilidades estão ligadas à necessidade evolutiva de sermos aceitos e amados. Porém, se mudarmos a forma como a encaramos, poderemos enxerga-la como um caminho para a plenitude e não para a tempestade, sem precisarmos comprometer nossa necessidade de afeto. Ter a coragem de ser imperfeito, ser gentil consigo mesmo e ter auto compaixão é o melhor caminho para diminuir as próprias angústias. Quem consegue abraçar sua vulnerabilidade vira uma chave e vê na “fraqueza” uma oportunidade de crescimento, autonomia e libertação.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Despedida de 2022

Gabinete Real de Leitura (RJ)

Hoje eu encerro meu último dia de atendimentos do ano. Aqui, neste consultório de onde escrevo, tantas histórias foram contadas e afetos compartilhados também. Me emociona lembrar das coisas que passamos juntos neste espaço, e saber que todas elas dão contorno e sentido ao meu trabalho. Meu 2022 foi um ano de muito amadurecimento e consolidação profissional, e sei que nada disso seria possível sem a confiança, a disponibilidade e a entrega de cada um ao seu próprio processo terapêutico.

Escolhi essa foto por ser tão afetiva pra mim. Este é um registro do Gabinete Real de Leitura do Rio de Janeiro, cidade onde participei pela primeira vez do encontro interestadual de Gestalt-terapia. Ao meu redor, um universo infinito de palavras, estas que hoje são meu maior instrumento de trabalho e acalento.

Me despeço desse ano também com as palavras, mas desta vez, da grandiosa Nise da Silveira, que tanto ecoaram por aqui e que com certeza (direta ou indiretamente), reverberaram nos atendimentos também:

“É necessário se espantar, se indignar e se contagiar.
Só assim é possível mudar a realidade.”

Que neste próximo ano possamos nos encontrar novamente, com muito espanto e muita indignação, e que a potência dos afetos siga nos contagiando!

Obrigada, obrigada e obrigada mais uma vez.
Pode vir, 2023! ✨🥂🍾

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Saramago, o agitador de consciências

arte: @gustavogontijoart

José Saramago foi, sem dúvida, a voz mais notável das letras portuguesas. Sua faceta de homem comprometido sempre o caracterizou muito bem, e a excelência de sua escrita lhe trouxe um prêmio Nobel e outros tantos. Assim, grande parte das suas obras se lançam como veículo excepcional para a catarse e a reflexão filosófica, um legado que nos convida para o “despertar”.

Frequentemente, dizem que Saramago foi um agitador de consciências. Nunca parou de denunciar injustiças e de se posicionar perante qualquer conflito de sua época. Por isso, em uma de suas palestras, ele definiu a si mesmo como um escritor apaixonado, alguém com a necessidade de levantar qualquer pedra, mesmo sabendo que embaixo poderiam estar escondidos verdadeiros monstros.

Foi o escritor mais ilustre que Portugal nos ofereceu, juntamente a outros autores como Fernando Pessoa. Saramago é responsável por uma obra provocativa, mágica e inquietante que nos convidou a analisar o presente é a nós mesmos através de seus olhos.

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome,
essa coisa é o que somos”
Trecho do livro Ensaio Sobre a Cegueira, em homenagem ao centenário de José Saramago.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Quais amanhãs queremos?

Museu do Amanhã (RJ)
"Que Amanhãs queremos construir? Amanhã é hoje. Hoje é o lugar da ação". Me deparei com essa mensagem incrita num grande globo de led, projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, em uma visita ao Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Saí de lá pensativa, sensibilizada com a provocação.

Quando refletimos sobre passado, presente e futuro, percebemos como os seres humanos são parecidos uns com os outros - ora em apoio, ora em batalha. Se considerarmos a justificativa de que o ideal é que nos conectemos por aquilo que temos coletivamente, por que não lutamos pela construção de uma sociedade melhor e mais justa? Por que não procuramos viver em harmonia, num espaço onde possamos cuidar uns dos outros com segurança e dignidade? Investir em algo que nos que nos faça sentir inteiros e nos dê alguma certeza de que viver ainda pode valer a pena?

O futuro está em nossas mãos. Mais que uma noção de tempo, o amanhã é uma construção, e que começa no agora. Como sociedade, nosso maior desafio será pensar em novos caminhos para navegarmos entre aquilo que somos e aquilo que podemos vir a ser. É responsabilidade de cada um explorar as mudanças do momento em que estamos vivendo e dos possíveis rumos para a construção do amanhã que queremos.

Não esqueçam, o amanhã é hoje.
E hoje é o lugar da ação!

Nós somos o que postamos?

Quando perguntam se nós somos o que postamos, não é porque devemos ser completamente transparentes nas redes sociais, muito menos nos expor de modo negativo, com fotos tristes ou fatos pesados sobre nós mesmos. A pergunta, na verdade, é para gerar reflexão sobre que tipo de conteúdo estamos produzindo, se não estamos rendidos a um automatismo que só contribui para uma imagem idealizada de nós mesmos.

Por que nos machucamos com tantas comparações quando todos nós enfrentamos problemas, dias ruins, sentimentos desanimadores, e nenhum de nós têm a vida perfeita que postamos nas redes sociais? A verdade é que se fossemos mais honestos conosco e com o mundo e compartilhássemos da nossa vulnerabilidade, muitas pessoas também se sentiriam encorajadas para tirar esse peso dos ombros e terem uma vida mais leve - inclusive você.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Nossa criança interior

arte: @anna_cunha
inspirada por Milton Nascimento

Na psicologia, o conceito de “criança interior” é um termo usado para definir a parte íntima, ligada às crenças e aos afetos que foram construídos na infância. Em maior ou menor grau, essa criança que fomos ainda carrega em nós seus anseios e carências. A necessidade de amor, cuja falta vem da infância, é responsável por muitas tendências autodestrutivas e insatisfações nas relações pessoais. Essa criança precisa ser cuidada para o equilíbrio da nossa vida emocional.

A criança interior é o resultado de experiências vividas desde o momento da concepção até o final da infância. Dependendo do que você recebeu dos pais e do ambiente em que se desenvolveu, sua criança interior pode trazer em seu íntimo criatividade, alegria, intuição, sensibilidade, mas também rancor, medos, culpa, solidão, desamor, obsessões, etc.

A criança interior é tão importante que a consideramos a mais fiel representação de quem somos, pois nossos impulsos são amplamente influenciados pela percepção que a criança interior tem da vida.

"Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa" (Jung, 1981)


domingo, 13 de novembro de 2022

VIII Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - RJ (2022)
VIII Congresso de Gestalt-terapia
VIII Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro, check! Depois de tanto tempo de espera, atravessando uma pandemia e um cenário político tão desafiador, enfim, nosso encontro aconteceu. Foram três dias de muito aprendizado, trocas potentes e partilhas de experiências clínicas.

Com a proposta de tema “Existências Anônimas: a Gestalt-Terapia ocupando espaços de resistência”, esse encontro trouxe para debate os modos de existência que são sistematicamente excluídos, banalizados e subtraídos de alteridades. Tivemos belas discussões sobre as fronteiras entre o visível e o invisível, lutas ditas minoritárias, as injustiças, as conquistas de gênero e as novas produções históricas, tão urgentes no atual cenário.

Com certeza foi uma jornada pra lá de incrível! Volto pra casa com muito mais perguntas que respostas, e me sentindo provocada a ampliar cada vez mais o saber e a práxis da Psicologia e Gestalt-terapia.

E que venham os próximos! ❤️

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Sobre o VIII Congresso de Gestalt-terapia

VIII Congresso de Gestalt-terapia

Nos dias 03, 04 e 05 de novembro irei participar do VIII Congresso de Gestalt-terapia, desta vez realizado no Rio de Janeiro. O evento terá como eixo central a ocupação de espaços de resistência, e serão abordados os temas família, casais, novas masculinidades, depressão no puerpério, luto infantil, violência doméstica, reflexos do abuso e violência sexual infantil na vida adulta e mais outros tão incríveis quanto. Na medida do possível, vou compartilhando por aqui essa experiência com vocês!

Sustentar sem suportar

arte: @lianaferraz
Na terapia, o silêncio faz parte do processo. Como diria o psicanalista Násio, o silêncio possui forças que arrastam o analisando para o seu próprio interior. Ele faz contato com aquilo que o discurso esconde, e o interdito e o não dito também revelam questões do sujeito. Daí a importância do silêncio para escutar tantos outros modos de dizer. 

Se o psicólogo responde todas as questões do consulente, assim como acontece em uma conversa comum, o consulente não entrará em contato com seu próprio vazio e, consequentemente, não desenvolverá formas de lidar com ele. Sustentar e suportar o silêncio é dar tempo para que a palavra que foi dita ecoe no sujeito, fazendo-o reviver certas experiências da ordem do desamparo e da estranheza.





quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Dia das crianças e as crianças que já fomos

Por muitos anos eu tive vergonha das minhas fotos. Nessa, por exemplo, eu estava com 8 anos. Ainda não entendia muito o que era a tal da pressão estética, fui apresentada a ela um pouco mais tarde. Mas apesar de ainda não saber, em cima de mim já existiam vários julgamentos e expectativas do mundo. E eu era apenas uma criança.
Manuella Bahls

Depois de algum tempo, em torno de um ou dois anos, me dei conta do fel do mundo. Passei a ser pouco (ou nada) generosa comigo, e encontrava defeitos em detalhes que hoje mal consigo entender como os encontrei. O mundo ensina as meninas, desde muito novas, a não gostarem de si. A odiarem seus corpos e suas singularidades. Nos tornamos boas em encontrar defeitos - excelentes, na verdade. Porque defeitos são faltas, faltas geram desejo, e onde há desejo, há consumo. A lógica da sobrevivência se alimenta da criação de insatisfações desnecessárias.

Somente aos 34 anos consigo olhar essa foto de um jeito diferente. Hoje, o que vejo é apenas uma criança. Uma menina doce, engraçada e muito curiosa, com olhos vibrantes, cheios de astúcia e inocência. Um semblante terno e desperto, “emoldurado” pelos cabelos desajeitados e roupas coloridas (quem costurava e cortava os cabelos do pessoal lá de casa era minha mãe, pessoa essa que nitidamente fazia da filha um experimento particular hehehe).

Hoje consigo sentir muito carinho por essa foto. Embora eu lamente o tempo que passei tentando ressignificar tudo isso, ainda tento conseguir amar essa menina imperfeita cada dia mais, cada vez mais depressa. E é isso que eu desejo a vocês também.

Feliz dia das crianças para todas aquelas que ainda são, as que um dia já foram e as que, se procurarmos com respeito e gentileza, ainda conseguimos encontrar aqui dentro da gente!

sábado, 17 de setembro de 2022

Lista de espera 2023

Com a chegada de tanta gente maravilhosa, não tem sido possível absorver aqueles que me procuram pra novos horários. Por este motivo, é com um misto de tristeza e alegria que informo a todos o fechamento da agenda de 2022 para novos pacientes.

Quem tiver interesse de iniciar o processo terapêutico comigo, vou colocar abaixo o link da lista de espera para marcações a partir de janeiro de 2023.


Para quem tem mais urgência e aceite iniciar o processo com outro profissional, mande um DM que envio minha lista de indicações, formada somente por psicólogos que conheço e em quem confio muito.

Aproveito para agradecer a todos pela confiança em meu trabalho 
e pela oportunidade de fazer parte dessa jornada com vocês.
🌻

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Leva tempo, mas o tempo leva

arte: @gabecollart
O filósofo Heráclito dizia que o mundo e a natureza são constantes movimentos. Tudo muda o tempo todo, e o fluxo perpétuo - aquele movimento constante - é a principal característica da natureza.

A vida é fluxo regido pelo tempo, e com ele, tudo passa. Os dias ruins, as noites mal dormidas, o vazio, a ansiedade, a falta. Dor alguma é permanente, desde que a deixemos ir. Acolha seu processo e aproveite a travessia. Leva tempo, mas o tempo sempre leva.


quinta-feira, 26 de maio de 2022

Comunicação Não Violenta e os conflitos nas relações

arte: @institutocnvbrasil

Não adianta fugir deles, os conflitos são parte de todas as relações. Eles podem aparecer como não-ditos, internos ou como atritos bem aparentes. A própria construção do equilíbrio na relação já pode ser um conflito, e é por isso que saber navegar por este tema se torna tão essencial para a saúde de qualquer relacionamento.

A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma proposta de ampliação das habilidades, cujo objetivo é dar lugar às necessidades e garantir a presença e a autenticidade das partes na relação, mesmo em momentos desafiadores. Você já ouviu falar de CNV?

“Toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida.”
Marshall Rosenberg

quinta-feira, 10 de março de 2022

Você sabe o que é empatia?

Com origem no termo grego empatheia, que significava “paixão”, a empatia é um dos fundamentos da identificação e da compreensão psicológica de outros indivíduos, pressupondo uma comunicação afetiva com outra pessoa.

Referência: @museudoamanha
Ser empático é ter afinidade e se identificar com outro. É saber ouvir, perceber e compreender o outro em sua totalidade: com seu contexto, seus problemas e suas emoções.

A empatia é diferente da simpatia. Enquanto a simpatia é majoritariamente uma resposta intelectual, a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpatia indica vontade de estar na presença de outra pessoa e de agradar a ela, a empatia faz brotar a vontade de compreender e conhecer outra pessoa.

“Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro
e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.”
Carl Rogers

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A ilha (nem tão) desconhecida

Trecho do livro "O conto da ilha desconhecida",
publicado pela Companhia das Letras.
Em seu livro "O conto da ilha desconhecida", Saramago nos mostra que a ilha é nosso próprio processo. O lugar desconhecido que tanto queremos encontrar já está aqui, acontecendo todos os dias dentro do nosso barco. Um processo formado pelo presente, onde a soma dos vividos vai construindo nossa rota pessoal. Somos todos ilhas desconhecidas, e não há como convencer alguém a ver sua ilha, esse é um processo único e intransferível.

É saindo da ilha que podemos nos olhar de fora pra dentro, na tentativa de ver o todo e mapear a si mesmo, percebendo e validando os próprios sentimentos, emoções e desejos.

domingo, 9 de janeiro de 2022

Tem coisas que só saem da gente por escrito

Quem me conhece bem sabe que sempre gostei de utilizar a escrita como forma de expressão. O desafio de construir um texto com meus afetos em muito me ajudou a organizar angústias que, não raras vezes, estavam escondidas em algum canto dentro de mim e que ainda não havia descoberto.

Curiosamente, nestes anos de clínica, nunca havia sugerido aos meus consulentes que fizessem uso deste recurso. Não deixei de fazer por desacreditar em sua eficiência ou por não querer compartilhar isso com eles, mas por não ter me dado conta de que aquele hábito, tão particular, poderia ser instrumento terapêutico no processo de outras pessoas também. Hoje, grande parte das pessoas que atendo costumam ter meu incentivo em se atrever nessa tarefa catártica e libertadora que é a de nomear os afetos e transforma-los em texto.

A psicanalista Catherine Millot, certa vez, disse que quando escrevemos, nos situamos na fronteira daquilo que não é possível de ser dito. Eis a experiência da escrita. Existem coisas que não consigo dizer, mas continuo escrevendo. A escrita é uma busca incessante pelo preenchimento dos nossos pequenos e grandes vazios. Onde há vazio, cabe a escrita. Quando escrevemos, é possível abrir um caminho.

Frase de Catherine Millot
Fica aqui meu convite de hoje: ESCREVA! Não se preocupe com a caligrafia, não se importe com a gramática, escreva de forma contínua tudo aquilo que, por qualquer motivo que seja, ainda não conseguiu transpor em verbo. Me conte depois, no privado ou nos próprios comentários, como foi sua experiência.

Para as coisas que só saem da gente por escrito, palavra.
Para todas as outras, tempo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Janeiro Branco


Neste mês é iniciada a campanha “Janeiro Branco”, que tem como proposta voltar os olhares do mundo para as questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas. A iniciativa também visa desmistificar os tabus que ainda existem em relação ao tema.

A razão pela qual o mês de janeiro é o escolhido para a realização da campanha se deve ao fato de, no primeiro mês do ano, em termos simbólicos e culturais, as pessoas estarem mais propensas a pensarem em suas vidas, suas relações sociais, suas condições de existência, nas próprias emoções e sentidos existenciais.

O Janeiro Branco tem um significado especial, pois vem ao encontro da necessidade de nos voltarmos para dentro de nós, ouvirmos os nossos ruídos que sinalizam quando não estamos bem e efetivamente poder buscar ajuda quando necessário.

E você, tem prestado atenção na sua saúde mental?